11 março, 2024

Pediatrando

 

         O doutor Alan Karlamas, pediatra conhecido como doutor Lamas, assim que voltou de uma temporada de estudos no Instituto de Budismo Tibetano, passou a atender na clínica dos loucos. Ele sempre foi um sujeito calmo sereno, mas quando voltou de sua viagem se mostrou bem mais espiritualizado (até demais) e com certo fanatismo espírita. Portanto, sempre relacionava as enfermidades dos pacientes à espíritos ou vidas passadas.

         Surge uma mãe com um bebê...

            - Bom dia, eu liguei ontem no consultório e tenho uma consulta marcada para agora às 09:40.

            - Sim, é para o Pablo, seu filho?

            - Exatamente.

            A secretária avisou o Dr. Lamas e encaminhou a mãe com o filho até a porta do consultório. Entrando, a mãe diminui o alargamento dos olhos e o seu filho de 5 anos começa a espirrar. Era um incenso indiano fortíssimo. O Dr. Lamas estava sentado de olhos fechados e com aspecto alegre e calmo, mesmo em meio à fumaça.

            - Olá, sentem-se – disse o doutor com toda educação e fineza.

            - Como está o garoto?

            - Doutor é que o meu filho Pablo já há algum tempo vem apresentando algumas queixas, e eu estou preocupada.

            - Queixas, quais?

            - Ele tem dificuldades para dormir sozinho, chora muito, está com cólica, acho também que ele está com infecção de urina porque ele diz que arde quando vai urinar. Além disso ele está muito indisciplinado, fazendo bagunça e ele é muito bravinho (...)

            - Bom, as vacinas deles estão em dia?

            - Sim, todas!

            Neste momento o garoto permanecia estático, movendo somente os olhos na direção de quem tomava a palavra no diálogo.

                        - Deixe-me ver – disse o doutor, andando em volta do menino com a mão direita no queixo concentrado e às vezes falando em voz baixa. De repente:

            - Opa, a coisa aqui é séria! Exclamou o doutor.

             A mãe sem entender nada pergunta se ele viu alguma anomalia ou suspeita de alguma doença.

            - Não – respondeu o doutor. É que o Pablo é especial.

            - Não pode ser doutor! Ele não tem problema mental. Ele até estuda em uma escola normal com alunos normais também.

            - Não se trata disso. É que o Pablo tem um histórico um pouco, digamos que, excedente em vidas passadas. – Disse o doutor.

            - O quê, tá louco doutor? Vidas passadas? Como assim?

            O que ele tem mesmo? – Perguntou o doutor Lamas.

            - Tem dificuldade para dormir.

            - Isso é porque seu filho em outra vida chutou muita macumba. Isso está sendo cobrado agora, entende?

            - E por que o choro então?

            - Veja bem, o Pablo teve muitas vidas passadas e fez coisas que estão refletindo na vida dele agora. No caso do choro é porque ele estava presente no lançamento dos bebês no rio Nilo.

            - Não acredito! – Vociferou a mãe.

            - Mas e as cólicas?

            Nesse momento o doutor põe as mãos sobre a barriga do menino e diz:

            - É porque há muitos séculos ele era coroinha e pôs laxante no vinho do papa Hidelbrando. E digo mais, a bagunça se dá hoje porque ele jogou pó de mico na cueca do Lampião.

            Não. – Dizia ela completamente perplexa.

            - Mas e quanto à indisciplina?

            - Ah sim, é porque ele chegou a furtar indulgências da Basílica de São Pedro. Infelizmente é isso o que estou vendo agora.

            - Mas doutor, vai me e dizer que a infecção de urina e o fato dele ser um pouco bravinho também está ligado a isso?

            - Exatamente. Em outra vida no século XIX ele fez xixi na estátua pública do Conde de San Germán. E a braveza talvez seja porque ele tenha sido capitão do mato em Diamantina há uns duzentos e poucos anos atrás.

            - Meu Deus do céu! Exclama a abismada e pré-infartada mãe.

            Disse o doutor Lamas:

            - É melhor pararmos por aqui, vou pedir um exame de sangue e encaminhar o Pablo ao psicólogo da clínica. Por enquanto ele é criança. Prefiro nem te contar o que eu vi dele quando viveu na Colômbia. Não tinha um outro nome melhor para dar a ele não?


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