Entrevista de emprego à mineirês

 

- Bão? Pó sentá aí. Fica à vontade.

- Cumé qui ce chama?

- Armando.

- Armando do que?

- Armando Pinto 

- Vorta bobo! Que nome vacaiado que é esse?

Risos...

- Por que ocê qué trabalhaiá aqui Armando?

- Bom, eu trabalho na área administrativa há um bom tempo e quando soube da iminência da empresa em contratar um colaborador gabaritado que preencha todos os requisitos, logo me candidatei. Esta empresa é almejada por milhares de pessoas por ser paradigmal e aparatosa. Portanto, a mim interessa bastante trabalhar aqui.

- Tendi. Uai, se é tudo isso aí qui ocê tá falano intão tá bão né.

- Mi conta uma coisa Armando. Por que ocê saiu lá do teu úrtimo imprego?

- Então, a empresa necessitava minorar as expensas e precisou abalizar o número de funcionários simplificando o quadro. Dessa maneira eu fui destituído do cargo.

- Ah sei... Intão resumino ocê tomô um pé na bunda num foi?

- É, quase isso. - Concordou.

- Mi responde ota coisa: Se fosse pra quarqué dia ocê saí daqui da minha impresa, por que qui ocê ia saí?

- Bom, creio que talvez uma proposta de salário atraente poderia me tirar da empresa.

- Ah! Intão qué dizê que pur causa dum bucado di dinheiro ocê vaza na braquiária e deixa o barco sozinho afundano?!

- Não. Não é bem assim que eu quis dizer.

- Qui num é o que. Eu isicutei certim. É isso sim qui ocê falou uai!

- Vamo prossegui intão. Me fala três qualidade tua?

- Eu sou proativo, intrépido e loquaz.

- Quê? Protivo, intrepi e loquai? Mai que que é isso rapaiz. Como cê me fala um negóço desse aqui na intrevista? Num sei que que é isso não! Vorta!

- Mais siguino, mi fala intão treis defeito?

- ... ... Sou discreto até demais. Acho que esse é meu único defeito.

- Ah pronto! Discreto ocê? Mai nem a pau que é! O primero defeito é achá que num tem defeito.  Intão pur que ocê acha que eu tenho que te contratá?

- Acho que o senhor tem que me contratar porque a minha formação compreende a todo o setor administrativo da sua empresa. Meu MBA, por exemplo, está diretamente relacionado às finanças. O meu mestrado é sobre corporativismo. E estou doutorando em certificação e administração cafeeira.

- Credo! Pó para quisso! Tendo nada disso não. Aqui ó, eu só preciso de um auxiliar aqui na dimistração. De astronauta eu num preciso não sô! Brigado e tchau.

Se's

 

O brasileiro é conhecido pelo seu famoso jeitinho. Com um pouco de engenhosidade ele sempre resolve as coisas. No entanto, sempre tem aquelas pessoas que insistentemente reclamam de tudo. Imagine se vivessem em tempos remotos com precariedade máxima e sem nenhuma perspectiva? Pois é, nos dias de hoje é bem mais prático usar o “jeitinho brasileiro”. Mas bem antigamente não era assim, pois, para muitos padecimentos e para muitas dificuldades não existiam soluções simples e rápidas como hoje na Era Moderna. Por isso vai aí algumas dezenas de se’s para a nossa meditação: Se a pessoa está gordinha, faz uma bariátrica e resolve tudo. Mas se sobrar muita pele, faz logo uma plástica e depois suplementa com muito colágeno. Se é magrinho, basta ir ao endocrinologista. Se tem um seio minúsculo, põe silicone. Se o seio é enorme, remove o excesso com uma cirurgia. Se faltar um dente, resolve com uma ponte. Agora, se faltar todos, basta um implante ou uma dentadura mesmo. Se o cabelo é crespo, recorre à progressiva. Mas se é muito liso, dá para cachear, fazer um dread ou quem sabe um rastafári. Se tem chulé, joga talco. Se tem mancha na pele (melasma) o dermatologista indica um tratamento. Se a visão é ruim, óculos nele! E se não quiser óculos compra uma lente. Se tiver constipação, toma logo um laxante. Se tem dor de cabeça, toma remédio e, se não resolver faz uma ressonância magnética. Se tiver dor de dente, procura um dentista e recebe anestesia. Se tiver queda de cabelo pode recorrer a um implante ou à tradicional peruca. Se quiser uma bela barba, toma um composto que ajuda no crescimento. Se a pipa do vovô não quiser subir, toma um azulzinho. Se tem bromidrose, arruma um desodorante, um perfume ou quem sabe uma loção e resolve o problema (ou parte dele). Se é muito tímido faz um curso de oratória. Se quer aprender um idioma, se matricula em um curso online grátis. Se não sabe o que fazer da vida, candidata-se a vereador. Se quiser engravidar, basta transar. Se não quiser não transa! Se quer uma filha, reza. Se quer um menino reza de novo! Se quiser passar por bom moço, vai para a igreja! Se quiser salvar vidas, se torna médico ou bombeiro, mas se quiser ceifar vidas, macumbeiro! E ainda se quiser constranger pessoas, barraqueiro! Se quiser maravilhá-las, milagreiro. Se quiser ser político, trambiqueiro. Se não sabe escrever compra um letreiro. Se quiser andar bastante, carteiro. Se quiser um trabalho prático, coveiro. Mas se quiser um tranquilo, porteiro. Se quiser ser vingador, Arqueiro, e assim por diante. Nada é tão difícil e complicado assim. Hoje tudo está mais fácil e acessível que antigamente, concorda? Está sempre na boca do povo: “Há um jeito para tudo, menos para a morte”.

Desabafo de um traído

 

Aqui jaz um abandonado... imerso em tamanha tristeza. A solidão é causticante neste jardim de aflições. Estou em pleno massacre sob a luz do sol e por vezes sob intensa chuva e ventania, além da esnobe alheia com os lombos fendidos e debilitados sem poder de reação. Chu Ming Silveira é a única testemunha do que digo.

Subitamente me veio à lembrança o quanto nossa relação era estável e amorosa. Ainda posso sentir pela memória seus dedos correndo sobre mim e o tempo em que permanecia sob minha guarida a conversar. Mas você que sempre se deixou levar facilmente por toda sorte de engano, com o tempo foi se fragilizando e aos poucos parou de considerar a minha prestânça e minha permanente presença sempre aberto em lhe receber. Apareceram outros que embora tivessem menor estatura, fizeram brilhar os seus olhos despertando instantaneamente o seu interesse. Sei que o fator - idade, modernidade e inteligência deles, foram decisivos para que você adulterasse tão celeremente e descaradamente sem se importar com o que iriam dizer deste velho pelas ruas.

Hoje, sinceramente não guardo mágoas nem abrigo o ódio, somente me entristeço, mas aceito a situação por que sei que tudo foi de certa maneira bom para todos. Durante o tempo em que estivemos juntos, foi maravilhoso e intenso. Daqui a pouco estarão me carregando para a morte, então decidi expressar tudo o que sinto antes que isso seja consumado.

Um grande abraço!

ASS: Orelhão público.