11 março, 2024

Neurologista

 

 Mais um dia na clínica dos loucos...

            Surpresa, estranheza e curiosidade era o que todos sentiam ao ver entrar em uma clínica um sujeito de roupa branca com longos bigodes e um semblante fechado.

            O doutor Mauro Eufrazin é um neurologista e tem aquele gaúches típico dos pampas. Só atende de bota campeira no pé esquerdo, pois, nos dedos do pé direito tem algumas frieiras que ele cutuca o tempo todo com uma varinha de cana da Índia. Na sua sala, ao contrário dos neurologistas comuns que tem um martelinho, ele tinha é uma marreta, quase igual à do Chapolin para testar os reflexos no joelho. E, caso ele errasse na força, mandava rapidamente o paciente para o doutor Naves (fisioterapeuta da clínica dos loucos). Mas isso só ocorreu duas vezes...

            Entrando o primeiro paciente...

            - Bom dia vivente, te abanque.

            - E esse frio de empedrar a água do poço?

            - Pois é doutor, tá frio demais mesmo.

            - Então, o que passa?

            - Dor de cabeça doutor.

            - Há quanto tempo?

            - Três dias já.

            - Já foi em outro neurologista antes?

            - Não.

            O doutor Eufrazin larga a varinha de cana da índia, se levanta e vai até ele para ver a cabeça mais de perto.

            - Barbaridade! Olha a quantidade de piolho nessa cabeça! – Exclama o doutor.

            - Sério rapaz, tô de boca aberta que nem burro quando come urtiga. A coisa aí tá mais feia que sapato de padre! Veja bem, com esse couro cabeludo branco como aipim descascado é impossível não ver esses piolhos.

            - Não sente coceira na cabeça?

            - Sinto sim, mas não acho que as dores são por causa dos piolhos não. Eu sempre suspeitei de que fosse por causa do refrigerante que eu tomo.

            - Além de ser piolhento toma fanta? Deixa de ser maricas e arruma uma cuia com uma bomba de respeito rapaz! E não adianta ficar suado igual tampa de chaleira aqui não. Quero você calmo igual água de poço, senão, não posso te ajudar.

            - O senhor pode me passar o pedido de uma tomografia ou uma ressonância?

            - É claro que sim, mas antes vamos resolver essa algazarra aí. Esses piolhos estão quase do tamanho de um sabonete tchê!

            - Já ouviu falar em creme de rabo de lagartixa?

            - Nunca. – Respondeu o paciente.

            - Imaginei mesmo. Então você vai conseguir algumas lagartixas, vai arrancar a calda, ferver e misturar com um pouco de funcho. Depois vai passar na cabeça e deixar por 1 hora e lavar.

            - Isso funciona? – Perguntou o paciente.

            - Guri, você tá mais por fora que surdo em bingo. Te aquieta aí.

            - E se não der certo?

            - Caso falhe essa tentativa, você vai comprar BHC (pó de broca) e vai passar na cabeça e ficar no sol por 5 minutos. Isso vai matar tudo que tem nessa sua cabeça de bagre.     

            - E quando será o meu retorno?

            - Certo. Como eu sei que a minha secretária é mais enrolada que namoro de cobra, eu mesmo já estou marcando retorno para daqui quinze dias.

            - Mas quinze dias é muito tempo doutor?

            - Te aquieta guri. Tá ansioso igual anão em comício! Se continuar assim eu passo a ponta daquela varinha ali na sua boca!


Otorrinomusic


Na manhã de uma sexta-feira, nada de anormal na clínica. Como era de se esperar, o gaúcho Dr. Marcos Metala, conhecido na clínica como Dr. Metala, estava ouvindo Black Dog do Led Zeppelin. Às vezes ele ouvia Black Sabbat também alternando com AC/DC, o que por si só não é uma coisa muito comum.

            O primeiro paciente do dia já estava achando um pouco estranho o som vindo da sala. A secretária pediu que ele entrasse, pois, o Dr. Metala estava aguardando.

            Logo de início, entrando, ele só não tapou os ouvidos por vergonha, mas o doutor baixou o som e cumprimentou o paciente. 

Depois de reparar a enorme cabeleira do médico, ele, olhando para a parede vê um quadro, mas nada daqueles quadros sobre a formação acadêmica do profissional. Era um quadro do Ronnie James Dio com o símbolo da mão chifrada, muito usado pelos adeptos do rock. Além disso uma guitarra com um amplificador e uma pedaleira não passaram despercebidos pelo paciente. A única coisa que destacava na mente dele era o medo que o doutor fosse como o Kellé Metaleiro – personagem do saudoso Saulo Laranjeira.

            - Muito bem, qual é o seu nome?

            - É Alexandre.

            - Não é Alexandre Pires não né? – Brinca o doutor.

            - Não, é Alexandre Pinheiro.

            - Qual é a sua queixa Alexandre?

            - Eu estou com zumbido no ouvido doutor. É como se tivesse uma mariposa lá dentro batendo as asas.

            - Bá, por acaso você anda ouvindo Demônios da Garoa?

            O paciente, embora constrangido sem entender o motivo da pergunta, responde que não, mas fica cabreiro.

            - E essas músicas de maricas, você ouve?

            - Também não doutor. – Respondeu Alexandre.

            - Bom, deixa eu olhar esse ouvido aí.

            Ao lançar luz no ouvido do paciente ele exclama:

            - Bá! Esse ouvido tá mais sujo que pau de galinheiro tchê! Tem 1 quilo de cera aí, barbaridade! Toma o teu assento novamente e vamos ter uma conversa séria.

            - Veja bem guri, se você estiver com zumbido de manhã é porque tá ouvindo funk. Se for à tarde é por causa do pagode. Mas se for à noite deve ser a porcaria do axé. - Disse o doutor amarrando os longos cabelos.

            - Qual é o período de maior incômodo? – Perguntou o doutor.

            - Geralmente é à noite.

            - Ah sim. Então vamos fazer o seguinte: vou deixar tudo preparado para você. Caso zunir de manhã você corre até o aparelho de som da casa e põe esse CD aqui para tocar, mas tem que pular e chacoalhar a cabeça. – Deu-lhe um CD do Iron Maiden. Mas se zunir depois das 12:00 você põe esse porque você já estará de barriga cheia, então terá que ouvir um blues. Agora, se for à noite, sem dúvida ouça Rock and Roll All Night do Kiss ou pode ir direto para o Judas Priest.

            - Mas doutor, isso você aprendeu na faculdade de medicina? – Indagou o paciente cada vez mais convicto de que o doutor Metala era uma espécie de Kellé.

            - Não bagual aporriado! Isso eu aprendi na vida. Por que, algum problema?

            Não, mas... é estranho tudo isso. - Respondeu o paciente.

            Na verdade, o doutor Metala não gostou nada da indagação do Alexandre.

            - Ah, e para essa trova não ficar mais longa que conversa de gago, tem mais – disse o doutor. Se de tudo isso não for o suficiente, ouça mais os CD’s do Hill Song e peça um milagre de Deus para esse ouvido ensebado aí. E se não tá bom para você, toma aqui essa receita de Rivotril. Você vai tomar 1 comprimido de 2g de 6 em 6 horas e nem música você vai conseguir ouvir. Você vai apagar, vai ficar letárgico e brochar o mês inteiro. E vê se não me aparece mais aqui esgualepado e cargoso assim!

Urologista

Mais um dia na clínica dos loucos...

A doutora Maria Benitz, uma paraibana arretada, estava iniciando os atendimentos. Ela era bonita, mas quando começava a falar, logo se percebia o maior jeitão de Maria-tomba-homem. Ela usava bota sete léguas, tinha a mão pesada e o costume de chutar bananeira era algo que nem os parentes mais próximos entendiam.

Às 13 horas ela chega na clínica, passa pela recepção e vai para sua sala.

- Manda vir. – Disse ela por telefone à secretária.

- Olá boa tarde, como vai? – Perguntou ao paciente.

- Tô bem.

- Oxênti, se tu tá bom então por que é que tá aqui?

- Então, é que eu tô com um problema no meu...

- Pinto! É isso foi? – Pergunta a doutora.

- É isso sim.

- Dirraí, desembucha.

- Eu nunca fui satisfeito com o tamanho do meu pênis. Já não aguento mais isso. Quero namorar normalmente, mas desse jeito fica difícil. Preciso saber se dá para aumentar o tamanho dele com uma cirurgia.

- Oxi, xovê esse negócio aí. Arria as calças.

O paciente estava com um pouco de vergonha e só mostrava o pênis pela metade.

- Vamo rapaz, tô acostumada a ver pinto todo dia. Deixa de ser baitola, mostra esse negócio logo!

Como o paciente não desenrolava a situação, ela mesma deu um puxão nas calças dele e baixou até os pés.

- Miséria! – Exclamou a doutora Benitz.

- Isso tá parecendo um dedinho! É sempre assim?

- Infelizmente é doutora. – Disse ele com todo o constrangimento do mundo.

A doutora lançou a mão para pegar e o paciente recuou.

- Dá isso aqui fii duma égua! Preciso pegar pra ver. Fique calmo que eu não vou azunhar ele não. - Disse ela.

Talvez a pressão dele estivesse em uns 17 por 5...

- O pior nem é o tamanho. Tú tem fimose até hoje?

- É... - Respondeu ele.

- Quantos anos tú tem?

- Vinte e Sete.

- Vinte e Sete, com essa pele toda! E pra acabar ainda deve ser virgem. – Ranheta a doutora.

- Além disso tá cheio de cerôto aí infeliz! – Tú não conhece água, sabão e bucha não? Porquera!

- Pra resolver essa fimose é só passar a pechêra. Agora, aumentar o tamanho dá não.

Desapontado, o paciente pergunta:

- Mas não tem nada para ajudar?

- Já que tú insiste faz logo o seguinte: Primeiramente, passa creolina pra lavar isso aí. Depois arruma uma cabra e põe ela pra sugar todo dia esse seu dedinho. Certeza que vai ajudar um pouco, vai aumentar, mas vai afinar, já tô lhe avisando, vice?

- Uma cabra? Jamais! – Retruca o paciente.

- Oxênti infeliz, tá pensando que eu tô de fuleiragem é? Antes a cabra que um jumento!  - Adverte a doutora.

- Pra falar a verdade a minha vontade é de lhe capá, mas como não posso, recomendo a você buscar consolo no orgasmo prostático. E se isso não tá bom pra você, vai logo ralando o peito!

Pediatrando

 

         O doutor Alan Karlamas, pediatra conhecido como doutor Lamas, assim que voltou de uma temporada de estudos no Instituto de Budismo Tibetano, passou a atender na clínica dos loucos. Ele sempre foi um sujeito calmo sereno, mas quando voltou de sua viagem se mostrou bem mais espiritualizado (até demais) e com certo fanatismo espírita. Portanto, sempre relacionava as enfermidades dos pacientes à espíritos ou vidas passadas.

         Surge uma mãe com um bebê...

            - Bom dia, eu liguei ontem no consultório e tenho uma consulta marcada para agora às 09:40.

            - Sim, é para o Pablo, seu filho?

            - Exatamente.

            A secretária avisou o Dr. Lamas e encaminhou a mãe com o filho até a porta do consultório. Entrando, a mãe diminui o alargamento dos olhos e o seu filho de 5 anos começa a espirrar. Era um incenso indiano fortíssimo. O Dr. Lamas estava sentado de olhos fechados e com aspecto alegre e calmo, mesmo em meio à fumaça.

            - Olá, sentem-se – disse o doutor com toda educação e fineza.

            - Como está o garoto?

            - Doutor é que o meu filho Pablo já há algum tempo vem apresentando algumas queixas, e eu estou preocupada.

            - Queixas, quais?

            - Ele tem dificuldades para dormir sozinho, chora muito, está com cólica, acho também que ele está com infecção de urina porque ele diz que arde quando vai urinar. Além disso ele está muito indisciplinado, fazendo bagunça e ele é muito bravinho (...)

            - Bom, as vacinas deles estão em dia?

            - Sim, todas!

            Neste momento o garoto permanecia estático, movendo somente os olhos na direção de quem tomava a palavra no diálogo.

                        - Deixe-me ver – disse o doutor, andando em volta do menino com a mão direita no queixo concentrado e às vezes falando em voz baixa. De repente:

            - Opa, a coisa aqui é séria! Exclamou o doutor.

             A mãe sem entender nada pergunta se ele viu alguma anomalia ou suspeita de alguma doença.

            - Não – respondeu o doutor. É que o Pablo é especial.

            - Não pode ser doutor! Ele não tem problema mental. Ele até estuda em uma escola normal com alunos normais também.

            - Não se trata disso. É que o Pablo tem um histórico um pouco, digamos que, excedente em vidas passadas. – Disse o doutor.

            - O quê, tá louco doutor? Vidas passadas? Como assim?

            O que ele tem mesmo? – Perguntou o doutor Lamas.

            - Tem dificuldade para dormir.

            - Isso é porque seu filho em outra vida chutou muita macumba. Isso está sendo cobrado agora, entende?

            - E por que o choro então?

            - Veja bem, o Pablo teve muitas vidas passadas e fez coisas que estão refletindo na vida dele agora. No caso do choro é porque ele estava presente no lançamento dos bebês no rio Nilo.

            - Não acredito! – Vociferou a mãe.

            - Mas e as cólicas?

            Nesse momento o doutor põe as mãos sobre a barriga do menino e diz:

            - É porque há muitos séculos ele era coroinha e pôs laxante no vinho do papa Hidelbrando. E digo mais, a bagunça se dá hoje porque ele jogou pó de mico na cueca do Lampião.

            Não. – Dizia ela completamente perplexa.

            - Mas e quanto à indisciplina?

            - Ah sim, é porque ele chegou a furtar indulgências da Basílica de São Pedro. Infelizmente é isso o que estou vendo agora.

            - Mas doutor, vai me e dizer que a infecção de urina e o fato dele ser um pouco bravinho também está ligado a isso?

            - Exatamente. Em outra vida no século XIX ele fez xixi na estátua pública do Conde de San Germán. E a braveza talvez seja porque ele tenha sido capitão do mato em Diamantina há uns duzentos e poucos anos atrás.

            - Meu Deus do céu! Exclama a abismada e pré-infartada mãe.

            Disse o doutor Lamas:

            - É melhor pararmos por aqui, vou pedir um exame de sangue e encaminhar o Pablo ao psicólogo da clínica. Por enquanto ele é criança. Prefiro nem te contar o que eu vi dele quando viveu na Colômbia. Não tinha um outro nome melhor para dar a ele não?


O Caso do iogurte


         Certa vez com dezoito anos, sem dinheiro, namorando e cheio de problemas, Valdinei, o “Valdinho” conseguiu um emprego em uma distribuidora bastante conhecida em todo o Brasil. Lá, foi trabalhar com expedição de cargas e carregamento, mas era no turno da noite. Ele trabalhava com mais cinco pessoas carregando iogurtes e outros frios e expedindo notas fiscais.

No início ficou boquiaberto com o volume de iogurtes que, na grande realidade não estava acostumado a ver, tampouco ter em casa...   
         No primeiro dia de trabalho começou a fazer um carregamento sozinho na câmara fria e já estava com um olhar de regalão para os iogurtes. E na mesma hora pensou: “Bom, como vou aguentar ficar olhando sem provar um pouquinho”. No mesmo instante veio uma voz nos seus ouvidos: “Mas é só um, ninguém vai dar falta... Então olhou de um lado para o outro e não viu nenhuma câmera. Pronto! Quase!!! No momento que a adrenalina tomava conta de seu corpo, o Valdinho viu e ouviu até o que não existia e acabou momentaneamente sendo freado. Sempre achava que alguém estava observando. De repente rompeu com a ética e consumou o ato! Pegou um iogurte coloridinho sem escolher marca e abriu bruscamente enfiando “goela abaixo” com toda rapidez e olhando desesperadamente para os lados, mas felizmente ninguém estava lá. Ufa!!!

         Passado alguns minutos, na mesma noite por volta das 03:00 foi até a cozinha lanchar junto com um pessoal que já estava lá. Chegando, ficou conversando com todos, pois era bastante comunicativo e tinha facilidade em fazer amizade.

         Em poucos instantes começaram a “sair de fininho” com olhares cabreiros cada um para o seu setor, até ficar somente ele e um funcionário que chamavam de “montanha”, um homem alto e parrudo. Ele se aproximou brandamente do Valdinho que na mesma hora pensou: Tô morto, ele já deve saber da minha arte. Será que vai me entregar? Como será que ele viu? Ou talvez vai somente me repreender?

         Mas o “montanha” disse assim de cantinho:

         - Rapaz limpa a ponta desse nariz, tá dando pra todo mundo ver...

Discurso de um marolense


         Juscelino já estava praticamente no meio do mandato de prefeito. Era uma cidade bastante pequena, mas que apoiava o seu líder.  O ponto fraco do “celino”, como era chamado pelos marolenses de Santana do Marolo, era a oratória...

         Num discurso ocorrido no show de um cantor sertanejo (Daniel) no final de ano ele dizia:

-        Meu povo e minha póva...

         O assistente arregalou os olhos espantado.

-        … Na próxima eleição quero ganhá de novo! E vou empregá mais gente ainda. Vou empregá os professor, os varredor de rua, os... 

De repente o assessor interrompe o prefeito falando ao seu ouvido:

-        Emprega o plural “celino”! Tá estranho o senhor falando desse jeito.

Prosseguiu o prefeito:

-        Eu tamém vou empregá o prural, os catadô de lixo, os operadô de máquina... 

-        Todo mundo de Santana do Marolo sabe que na minha “gestação” como prefeito eu fiz o melhor pra cidade. - Disse isso esperando uma salva de palmas.

         Foi uma sessão de risos misturado com aplausos e gargalhadas estrondosas... O cantor sertanejo só estava filmando ele com aquele semblante que nitidamente apontava a tremenda vontade de rir.

         Então ele disse:

-        Esse ano eu truxe o Daniel e a festa tá muito boa, mas no ano que vem vai ser mió ainda.

         Todos unanimemente esperavam pela conclusão da frase, principalmente o cantor presente.

-        É que no ano que vem eu vou trazer o Leonardo - Disse com grande regozijo.

         O povo até que aprovou, mas o Daniel achou um pouco estranho e ficou, é claro, muito sem graça...

         No final do discurso em meio a todos os tropeços possíveis que já era de se esperar, ele finaliza:

-        Gente, vamo fazê a contagem regressiva pra virada do ano!

-        É um, é dois, é três...

Fisioterapando (I)


 Depois de uns 10 minutos de espera, enfim, a secretária chama Rodolfino para a consulta:

- Siga pelo corredor, terceira porta à direita.

Ele levanta e chama a irmã para ir com ele. Caso ela não fosse, ele então desistiria.

Chegando à porta do consultório, o Dr. Naves – um gaúcho sem frescura, ex-fisiculturista, 1,95 m de altura e um par de mãos como raquete de tênis, recepciona Rodolfino e sua irmã.

Geralmente o Dr. Naves recebia a todos os pacientes de uma maneira incomum, mas que de certa forma tinha haver com a profissão: Ele, com as enormes mãos dava uma tapa duplo brutal que pegava no peito e nas costas ao mesmo tempo, dizendo: “Que tal, vamos aprumar o esqueleto?”

No canto do seu consultório existia uma morsa gigante que ele mandou construir para ameaçar os pacientes que reclamavam quando sofriam de dor no tratamento. Ele chamava de “Santa morsa da inquisição do Naves”. Era assustadora...

- Olá, entrem por favor! O que passa?

- É o meu irmão Rodolfino doutor.

- Rodolfino? Mas esse nome é mais feio que encochar a vó no tanque tchê!

O menino já ficou apavorado. Primeiro porque viu a morsa, segundo por conta do tamanho do doutor e por causa da piada. Sem contar a baita tapa que levou na entrada.

- Calma guri, não precisa ficar assustado que nem véia em canoa, eu sou grande mas não sou dois. Só não me venha com frescura eim! Fala o que está acontecendo enquanto vou mateando.

- Doutor Naves, eu levei o meu irmão no ortopedista e ele pediu para encaminhá-lo a um fisioterapeuta. Então aqui estamos.

- Deixe-me ver o exame.

- Bá! Esse pescoço tá pior que bico de corvo guri! É uma cifose muito grave! – Exclamou o doutor.

- Que fizeste para ficar assim?

A irmã dele dizia que talvez fosse pelas sucessivas masturbações sentado no vaso do banheiro... enquanto isso o doutor ficava com aquele olhar de revesgueio para o garoto.

- Bom, acho melhor você mesmo explicar melhor essa estória de punheta, pois, enquanto ficares quieto igual guri cagado eu não posso saber se é sério ou não o que sua irmã está dizendo. Anda desembucha!

O garoto já muito envergonhado continua calado e não abre a boca nem por decreto.

- Bom, então acredito na sua irmã. Para acabar com isso logo vamos ao primeiro passo: À partir de hoje, masturbação somente em pé encostado na parede e com colete cervical.

- Mas doutor você está incentivando ele a continuar? – Advertiu a irmã.

- Guria, não te intromete em assunto de macho, você só está aqui para falar por esse bagual aí.

O doutor Naves dirige a palavra ao garoto:

- Faça o que te pedi guri, garanto que o ritmo dessa peleja que estás o tempo todo travando no banheiro vai diminuir e seu pescoço vai ficar firme que nem pau de preso. Volte daqui um mês para o RPG. E agora vão embora antes que eu solte as patas em vocês!   

Fisioterapando (II)

 

  Lá ia a Raíssa até a clínica dos loucos em busca de fisioterapia. Mal ela sabia onde estava prestes a colocar os pés...

- Bom dia, eu vim para a consulta com o Dr. Naves – disse à secretária.

- Pois sim, siga pelo corredor, terceira porta à direita.

Raíssa procurou o doutor por indicação de uma amiga do trabalho. Ela dizia que era um gaúcho bonitão, forte, alto e simpático. Sei não, mas acho que o último adjetivo é controverso, enfim...

- Olá, entre e te abanque – disse o doutor (em mulheres ele dava uma tapa, porém mais de leve e só nas costas para evitar problemas de assédio).

- Diga o seu nome e o que se passa?

- O meu nome é Raíssa. Eu tinha subido lá, comecei a me apresentar e então escorreguei e caí, daí começou um apavoramento, muitas pessoas vieram me pegar e...

O Dr. Naves interrompe:

- Não estou entendo patavinas. Acalme os ânimos, se concentre e toca a ficha guria.

- Então doutor, eu sou dançarina de pole dance.

- Ah, é dessas que nem serra elétrica que não pode ver pau de pé?

- Não, que isso! Sou uma profissional da dança e vivo desta profissão. Não confunda as coisas. O fato é que eu estava dançando e quando virei de cabeça para baixo soltei as pernas e caí meio que de pescoço e ombro no chão. Está doendo muito!

- Que galinhagem eim! Por conta de uma dança quase espicha as canelas – disse o doutor.

- Mas tem tratamento que recupere rápido doutor? Eu preciso trabalhar.

Com uma cuia na mão ele responde a moça:

- Te acalma vivente. Tem sim, e te garanto que é mais eficiente que japonês na roça. Esse ombro vai ficar firme que nem catarro em parede, tu verás.

- Mas tenho que te advertir de uma coisa. Tu poderás dançar apenas chula até o final do tratamento; é tão fácil quanto fazer falar um rádio.

- Chula doutor? Isso é para homem! Não posso fazer nem um strip-tease moderado? 

- Xi, vejo que é tão assanhada quanto china solteira em festa de casamento eim!

- Se não aceitar a chula te jogo naquela morsa e a situação vai ficar mais difícil que dormir de espora sem rasgar lençol! Então, o que acha?

- Chula, chula, chula! – Respondeu Raíssa.


Fisioterapando (III)


Problema postural... então mais uma para o Dr. Naves...

Natasha estava com uma lordose acentuada e foi orientada a procurar o doutor mais temido e “eficiente” da área.

 Ela chega à clínica meio tensa e desengonçada, logo, a secretária liga no ramal do Naves e diz:

- Doutor, a próxima paciente está mais nervosa que gato em dia de faxina. Pega leve com ela viu?

- Com certeza, te acalme aí – disse o doutor.

Despedindo o paciente que acabara de consultar já ficou na porta esperando a Natasha.

- Olá. Te apronchega mais (nesse momento já foi uma tapa nas costas). Parece que está desabando o tempo lá fora, não está?

- É, ta chovendo muito sim – respondeu a moça.

- Te abanque e diga o que passa.

- Ah, doutor eu estou com lordose e meu bumbum fica muito arrebitado, às vezes me sinto constrangida  com isso.

- Mais constrangida que padre em puteiro ou dá para aguentar mais um pouco? – Pergunta o doutor.

- Não é para tanto doutor Naves, mas gostaria de mudar a postura.

- Levanta e sobe no tatame sem os sapatos e tire a camisa. Quero conferir a postura.

O doutor Naves correu as mãos sobre o corpo da moça e realmente percebeu que ela estava com problema postural. No entanto, ela meio que impressionada com o porte do doutor, começa a por as asinhas de fora e ele com toda experiência gauchesca percebe.

- Bom, guria. Estou só examinando e você já ta quente que nem frigideira sem cabo. Te acalma aí.

- Vamos fazer uns alongamentos aqui no chão. Mas agora tire a calça também.

- Mas doutor precisa mesmo tirar a calça?

- É claro que sim, esse é meu método de trabalho. Se não quiser largo-te campo afora ou vai parar na morsa ali no canto!

- Não, por tudo que é mais sagrado, a morsa não doutor!

Depois de alguns segundos, Natasha tira a calça e fica somente de shortinho e sutiã.

- Aí, agora pode deitar para começarmos o alongamento - disse o doutor Naves.

No instante em que ela deita, ele sente um cheiro estranho. E, com  sua personalidade também estranha e curiosa, não deixou passar o fato:

- A coisa aqui tá fedorenta que nem bafo de jiboia! Não te faça de salame guria, esse cheiro de bacurinha tá vindo de qual parte? Peidastes é?

- Não por quê? Não estou sentindo nada.

Até então o Naves não havia notado que a calcinha da moça estava rasgada em cima e com uma freada no meio. Mas quando notou, disse:

- Ah não, isso não! Calcinha rasgada com gosma igual cuspida de bêbado no meu tatame não guria das trevas! O pêlo do seu sovaco tá mais comprido que esperança de pobre e ainda esparramado feito dedo de pé que nunca entrou em bota! Barbaridade tchê!

A moça toda desconcertada tenta se desculpar:

- Perdão doutor, mas não deu tempo de eu ir até minha casa e tomar um banho, vim direto do trabalho. Mas não precisa ser bruto e arrogante assim!

- Arrogante, eu?  Veja bem, nem para a morsa eu vou te mandar. Te some da minha frente senão te dou uma camaçada de pau sua catinguenta!


Neurologista

    Mais um dia na clínica dos loucos...             Surpresa, estranheza e curiosidade era o que todos sentiam ao ver entrar em uma clíni...